Marcações #11 - O ato e o fato: O som e a fúria do que se viu no Golpe de 1964 (CONY, Carlos Heitor)


Eis as marcações que fiz no Kindle:

O ato e o fato: O som e a fúria do que se viu no Golpe de 1964 (CONY, Carlos Heitor)


princípio ou para que fins estão conspurcando a dignidade humana com prisões e punições idiotas e violentas. Os antigos
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Pois no Brasil de 1964 não se respeita nada. Cassam mandatos sem que os réus tenham a oportunidade de abrir a boca.
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Quem estiver nessa mesma situação que faça também o que seja possível. Se possível, faça o impossível. Cruzar os braços e fechar a boca pode ser cômodo, mas não será com os braços cruzados e as bocas fechadas que vamos fazer retornar aos quartéis os militares que se assanharam em invadir o país.
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Já se fala em eleições indiretas — o que é uma forma direta de indiretamente anunciar que não haverá eleição.
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Não tenho dúvidas em considerar tal atitude como uma prova de sabujice nacional diante dos Estados Unidos. Fazemos o jogo, não da parte sadia da grande nação do Norte, mas de sua parte corrupta e retrógrada, de sua parte mais sanguinária e cruel. Todos sabemos que o problema cubano é, para os Estados Unidos, um elemento precioso para a manutenção e solidificação de um Estado militarista.
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O Brasil agora é dos velhos, dos homens nostálgicos do ancien régime, que consideram subversão o fato de o trabalhador ter direito às férias, a um salário decente, a uma aposentadoria, a uma relativa liberdade.
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E ficam assim muitas coisas explicadas. Explica-se por que pessoas antes tão comedidas hoje se intitulam santamente de revolucionárias — qualificação que até há pouco evocava-nos as figuras de Danton, Bolívar, Tiradentes, Byron ou Malraux.
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Enfim, o pronunciamento do ministro da Guerra teve um mérito: revelou publicamente o despreparo do grupo, poderoso em armas e débil em ideias, que tomou conta do governo e já não sabe o que fazer com o próprio governo.
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Um preso disse, há dias, para a filha que lhe foi fazer visita: “Isso é um minuto na História, minha filha, não chore por tão pouco!” A moça continuou chorando. É que o minuto está custando a passar. E quando um povo começa a chorar é sinal que desse pranto nascerão gigantes que tornarão insignificantes o minuto e os pigmeus que nos oprimem e mutilam.
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Analisemos os fatos. As influências dos grupos econômicos estrangeiros já passaram seus recibos com firmas reconhecidas. Acredito que muitos inocentes que foram para a rua lutar contra o sr. João Goulart ignoravam que, no fundo, aquilo tudo fora previsto, combinado e subvencionado por grupos preocupados em dar segurança aos investimentos — metáfora que arranjaram para designar a intromissão em nossos assuntos internos.
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Se me perguntarem o que de pior aconteceu no Brasil em seus quatrocentos e tantos anos de vida, eu diria sem receio: o Ato Institucional assinado pelos ministros militares em abril de 1964. Pior pelo que realmente trouxe: a tirania, a supressão do Estado jurídico, a idiotice generalizada. Mas o pior, realmente, não chegou a ser isso. Nunca um governo usou de tanta força, manietou tanto um povo, avocou a si mesmo tanta responsabilidade. E para quê? Para promover reformas básicas? Para melhorar o nível econômico do país? Para libertar a nossa economia do jugo internacional? Para criar novas fontes de produção? Para alfabetizar o povo? Nada disso. Toda a força foi acumulada, toda a aberração jurídica foi perpetrada apenas para as caças, as perseguições, as mesquinharias, o saciar dos ódios. Durante todo esse tempo, o governo poderia impor ao Congresso uma reforma agrária, ou uma reforma administrativa ou bancária, medidas essas que o próprio sr. Castelo Branco foi obrigado a admitir como necessárias. Mas nada disso foi feito. Usou-se a força tão somente para intimidar o Congresso e o povo e, através do pânico, arrancar punições e castigos para os inimigos pessoais ou políticos dos homens que subiram ao poder.
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Como se não bastassem os males que já temos, o marechal Taurino de Resende[24] arranjou, por conta própria, mais um pesadelo para toda a nação: ameaça cassar a Justiça Civil, banindo-a de nossa estrutura estatal. De acordo com o marechal, somente a Justiça Militar tem meios e moral bastantes para investigar e punir os culpados.

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