O "Fuga do Campo 14" é um livro de digestão lenta, sofrida.
Não é fácil entrar em contato com tanto sofrimento e sair ileso, até por não ser
esta a proposta do livro, que é a denúncia. Blaine H
arden, o jornalista-escritor, quis revelar
ao mundo os horrores escondidos dentro das fronteiras da Coréia do Norte, o
Campo de Trabalhos Forçados nº 14, o qual, por acaso, a Coréia alega não existir.
Blaine, como correspondente de jornais norte-americanos na
Ásia, entrou em contato com Shin Dong Hyuk, o único fugitivo do Campo 14 a que
se tem notícia. Depois de várias entrevistas, conversas e encontros, Blaine escreveu,
em forma de relato, um livro com as memórias sofridas de um fugitivo e informações
chocantes sobre um país inacreditável.
Talvez aqui no Brasil nós não tenhamos noção do estardalhaço
que esse pequeno livro fez no mundo, mas foi grande... e importante. Imagine
que esse livro serviu de prova-chave num processo da ONU contra violações dos
direitos humanos na Coréia do Norte. Após o processo, a própria Coréia foi
impelida a gravar um vídeo-resposta desacreditando Shin como testemunha. Meses
depois, o próprio Shin fez algumas declarações contundentes sobre o livro,
enfim... A coisa foi longa e cheia de reviravoltas, muitas pessoas e interesses
envolvidos, uma loucura. No entanto, não darei aqui maiores informações, pois
considero que elas são muito mais impactantes depois da leitura do Fuga do
Campo 14 (Para quem já leu, fiz um vídeo sobre isso... link aqui).
De qualquer maneira, o livro é um soco no estômago, é algo
que nos faz repensar nosso lugar enquanto membros de uma sociedade livre e, aparentemente,
igualitária. A Coréia do Norte é a ditadura mais fechada a que se tem notícia,
e do pouco que sabemos dela, podemos pensar que são descrições de algum livro
de distopia ou algo do gênero, só que não...
Depois da leitura do Fuga do Campo 14, consegui levantar
várias questões e, até mesmo, repensar minha relação com os livros de
não-ficção. De um modo geral, acho que é um livro importante e que deve ser
lido, mas deixando bem claro que não se deve parar somente em suas poucas
páginas, pois este é um livro que abalou diversas nações e, por isso, tem o
mérito de nos fazer pensar sobre o papel dos livros no mundo.
Eu recomendo a leitura na tentativa de abrir a discussão
sobre o que lemos, e o porquê de o lermos. Enfim, fica aqui minha dica de um livro necessário à nossa
formação de leitores de não-ficção. E para quem já leu e quiser conversar, estarei
aqui aberta à discussão...
Até!
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